O segredo do Cedro
Texto publicado na Revista B.Forest, edição de novembro de 2017
O cedro-australiano (Toona ciliata) é uma espécie estrangeira que produz madeira tropical de alto valor, tipicamente caracterizada como “madeira nobre”. No Brasil, produtores dessa árvore buscam desenvolver e divulgar o cultivo no país de forma sustentável e renovável, visando sempre manter a alta qualidade dos produtos derivados da madeira da espécie.
É relevante ressaltar a diferenciação tecnológica entre os produtos de madeira nobre no mercado. Quando começamos a trabalhar com cedro-australiano no Brasil, em 2002, percebemos que a genética da espécie no país não era suficientemente adequada para um trabalho longevo e de qualidade. Por isso, resolvemos ir à fonte para solucionar o problema”, enfatiza o produtor Ricardo Vilela, sócio diretor da Bela Vista Florestal, empresa que conduz pesquisa aplicada com a espécie em Minas Gerais desde 2006.
Buscando a solução para o desafio, foi na própria Austrália que os produtores brasileiros encontraram a resposta. “O cedro-australiano tem uma importância histórica em seu país como o nosso pau-brasil. Foi uma espécie responsável pelo desbravamento da costa leste pelos colonos europeus no século 18. Essa relevância histórica fez com que CSIRO (entidade de pesquisa da Commonwealth britânica análoga à Embrapa) mapeasse, selecionasse e coletasse a semente das cerca de 130 melhores matrizes de Toona ciliata do país”, explica Vilela.
Este trabalho permitiu que fosse importado para o Brasil o tesouro genético mapeado pelo CSIRO, ou seja, as sementes dessas 130 matrizes selecionadas na costa leste de norte a sul, de regiões com 2.500 mm de chuva por ano e altas temperaturas a regiões de 900 mm e geadas – uma ampla diversidade genética, com diversidade de adaptação adequada a um país como o nosso, também de proporções continentais.
Para Vilela, esse é o grande diferencial do cultivo do cedro-australiano no Brasil: o trabalho genético que não foi feito com espécies como o mogno africano ou mesmo a teca, ao menos na mesma amplitude e qualidade. “Graças a essa iniciativa, o salto de produtividade florestal obtido na cultura do cedro foi de aproximados 200% com os novos materiais clonais, de 13-15 m3/ha/ano a 35-40 m3/ha/ano – um índice considerável em se tratando de madeira tropical de alto valor”, detalha.
Para dar apoio aos produtores de cedro-australiano, em junho deste ano, foi criada a ProCedro (Associação Brasileira de Produtores de Cedro Australiano) com o objetivo de fornecer ao mercado madeira de alta qualidade, legal e sustentável, assim como auxiliar os produtores nos processos de cultivo, divulgação e comercialização.
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